Tesouro Direto: qual título e quando comprar

Fala Finansfera!


Frequentemente o pequeno investidor é bombardeado com este tipo de abordagem apresentada no título deste artigo, especialmente pelas corretoras de valores e gurus de última hora. No início do mês recebi uma mala direta da Bovespa com esta proposta e cliquei no link só para passar raiva. Tinha certeza que não ia me apresentar nada de útil, mas cliquei assim mesmo. Paciência.





Infelizmente o pequeno investidor brasileiro investe mal (materia exame) e geralmente usa a poupança como principal opção. Isso aqueles que investem. Já ouvi muita gente dizer que ia investir quando na verdade estava trocando de carro. Lamentável.

A recente queda da taxa Selic está fazendo até a rentabilidade da poupança cair, e isso fez com que este investidor relaxado que diversifica pouco, buscasse melhores alternativas.

Na maioria das vezes chamadas desse tipo são belíssimas "varadas n'água", pois os artigos dão respostas evasivas ou lhe propõe um quiz para tentar melhorar a aderência entre os anseios do investidor com os tipos de títulos disponíveis. Esse era exatamente o caso do e-mail que recebi da Bovespa.

Considero esses "testes" para escolher o título como o pior aproach e provavelmente o mais arriscado para o pequeno investidor, que pode acabar tendo uma experiência ruim com tesouro direto. O teste que a Bovespa me propôs concluía que o Tesouro Pré seria a melhor opção para mim. Mas isso nesse momento seria desastroso, pois os juros estão em um patamar bastante baixo, tornando este título nada atrativo no momento.

Existe um outro aproach que é baseado em perfil do investidor. Uma tremenda baboseira, que quase sempre leva o pequeno investidor a entrar atrasado e tomar perigosos reveses:  amargar rendimento negativo por muito tempo ou o que é pior, realizar prejuízo porque não entende o que está acontecendo com o investimento.

Pois eu vou sair desse cliché e vou te mostrar isso agora: 

A verdade é que todo mundo quer ver Deus, mas ninguém quer morrer.

Para escolher o melhor título para você é necessário conhecer matemática financeira, entender como os títulos são precificados e saber se situar em que parte do ciclo econômico nos encontramos.

Assim vou fazer um esforço para mostrar aos leitores como eu escolho os títulos que vou comprar e em que situações faço vendas antecipadas para aproveitar ganhos.

Título Tesouro Selic
Em qualquer momento do ciclo econômico, situação de total apatia, medo de mudanças bruscas no mercado ou pura preguiça de estudar: Nestas situações eu opto por comprar títulos vinculados à Selic com o vencimento mais distante. Este título acompanha qualquer ponto do ciclo econômico e em condições normais de temperatura e pressão o investidor sempre terá ganhos reais (acima da inflação).

Os riscos a que o investidor estará exposto ao comprar Tesouro Selic são: inflação galopante, emissão de dinheiro (calote branco) e calote na vera. Basicamente risco soberano.

Essas compras podem ser utilizadas como reserva para boas oportunidades, mas preferencialmente devem ser levadas até o vencimento, pois essa é a melhor forma de reduzir gastos com impostos e taxas, otimizando os ganhos.

Título Tesouro IPCA+ e Tesouro Pré
Ao atingir meados dos ciclos de aperto monetário, chegaremos no início da região que considero mais apropriada para compra destes títulos. Identificamos estes períodos com a redução do ritmo de aumento de juros e início da resposta da inflação, que começa a ceder.

Nesta circunstância se o NTNB principal estiver acima de 6,5%+IPCA e LTN acima de 12,5% passo a considerar este título como opção de compra. Neste momento dou preferência aos títulos mais longos, mas a diversificação é sempre importante, pois se o ciclo tiver um período curto (tempo entre dois topos ou dois vales) os títulos curtos precificaram melhor o movimento. No momento atual estamos numa situação parecida com esta: os títulos curtos (2 anos) estão dando bons rendimentos e os títulos mais longos (5 anos) não estão respondendo tão bem.

Não gosto de comprar títulos com juros  semestrais, pois esse pagamento de cupom, compromete uma parcela da rentabilidade do investimento, já que sou taxado a cada pagamento, como se fosse um come cotas dos fundos.

Os riscos que o investidor estará exposto ao comprar Tesouro IPCA+ e Pré são: o ciclo de aperto monetário seguir e os títulos sofrerem aumento de taxa, o que irá reduzir o valor do título e o investidor irá amargar uma rentabilidade negativa por um certo período. Caso continue com o título até o vencimento irá receber a rentabilidade contratada.

O Tesouro IPCA+ não sofre tanto com o calote branco, mas o Tesouro Pré poderá ficar muito defasado neste caso. Em caso de calote na vera o investidor ficará numa situação ruim, mas convenhamos, o risco soberano no seu país não é um problema só para os títulos, mas todo um modo de vida.

No gráfico abaixo temos os ciclos de evolução do juros e da inflação, representados pela Selic e pelo IPCA.

Histórico de Juros e Inflação
Conforme comentei acima, em qualquer momento do ciclo eu posso comprar tesouro Selic, que por ser pós fixada, este investimento não requer nenhuma análise mais elaborada, é do tipo o que der, deu.

Porém os títulos pré-fixados, ou indexados ao IPCA não funcionam da mesma maneira. É preciso comprá-los no momento mais favorável, que é o início do ciclo de afrouxamento monetário. Observe que esse momento é marcado pela região onde após uma sequência de aumentos na taxa de juros, a inflação finalmente começa a ceder. Este é o gatilho para começar a comprar estes títulos.

A partir daí o investidor irá acompanhar uma sequência de queda de juros e desfrutar de ganhos extraordinários na renda fixa. Quando o governo começar a reduzir a velocidade da queda da taxa de juros ou a inflação começar a ameaçar um nova subida é o sinal para que o investidor se desfaça dos títulos pré-fixados e IPCA, de forma a embolsar os ganhos.  Obviamente, essa mudança irá gerar taxas e impostos e caso o ciclo não tenha sido tão vitorioso assim, eu não desfaço a operação e sigo até o vencimento. Isso significa conviver com um período de rendimentos baixos e até negativos.

Deste ponto em diante o investidor irá aportar em Tesouro Selic, até que nova oportunidade surja.

No gráfico, eu marquei em azul as regiões de compra e manutenção dos títulos Pré-fixados e IPCA. A região marcada em vermelho foi um falso sinal de compra, que eventualmente acontece. Obviamente no final da região azul é mais uma questão de manutenção do título do que uma região de aporte.

Devemos estar atentos ao contexto macro-econômico para melhor aproveitar esses ciclos e  ir alternando os títulos do tesouro que possuímos na carteira para fazer o posicionamento mais rentável.

Para obter informações de qualidade sobre os ciclos macro-econômicos recomendo o site do blogueiro Finanças Inteligentes, e as cartas mensais dos fundos Macro da Adam e Verde.

E aí, ajudei, atrapalhei ou só aumentei a pilha de clichés?

Grande abraço, bons investimentos e até o próximo post!!!






Referência precificação de Títulos: Apresentacao_Precificacao.pdf

Disclaimer: Não sou analista certificado. Todos os ativos apresentados nesse blog são apenas ilustrativos, não representando qualquer indicação (nem de compra, nem de venda, nem de manutenção).
Este blog serve apenas para fomentar discussões e trocar experiências.
Conheça bem o mercado que você investe, pois os resultados de suas operações são de sua inteira responsabilidade.

Comentários

  1. Realmente é isso aí mesmo. Mas quando decido pegar um selic da vida, sempre acabo pegando ao invés dele um CDB LIQ DIARIA. Rende mais e resgata no mesmo dia. Risco um pouco maior, mas sempre divido em pelo menos 5 bancos e conto com o FGC

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    Respostas
    1. Essa é uma ótima alternativa ao Selic.

      A ideia deste post veio à partir de diversos comentários que vi aqui na finansfera, pois as pessoas queriam saber porque muitos de nós estava alocando dinheiro novo no Selic, ou CDI de liquidez diária.

      Na verdade o que importa são as expectativas e não o rendimento passado. E a expectativa é de turbulência!

      Também vi muita corretora vendendo rendimento passado dos fundos vinculados à inflação e esse bonde já passou. Quem quiser surfar a espuma tem que estar ciente dos riscos.

      Grande abraço!

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