Call ou put: Eis a questão

Fala galera da Finansfera!

Fiz alguns experimentos para conhecer na prática o lançamento de Call Coberto e Put como estratégia auxiliar para geração de renda.

Uma coisa que chama a atenção logo no início é uma forma “preconceituosa” com que o lançamento de Put é encarado, eu inclusive.




Os gurus do mercado sempre ensinam a comprar opções como uma variação de day trades ou swing trades, mas pouco se fala do fato que a maioria das opções está fadada a virar pó. Assim o lado que ganha dinheiro com opções é o lado que lança. Por isso faz sentido a estratégia de geração de renda com opção.

As corretoras e suas estratégias de gerenciamentos de risco

A maioria das corretoras não permitem que seus clientes lancem PUT, mas por algum motivo que ainda não compreendi, não veem o menor problema em permitir que seus clientes lancem CALL descobertas.

A PUT possui um risco limitado, o ativo pode perder liquidez (passar a valer ZERO) e o cliente deverá ter em ativos ou numerário equivalentes ao valor do strike para cada opção lançada. Para ilustrar podemos considerar o exemplo onde 200 opções foram lançadas com um strike de R$20, de forma que meu maior prejuízo possível está limitado à R$4.000.

Por outro lado, o lançamento de um CALL descoberta possui risco infinito, pois quando lanço uma opção de compra, o titular da opção tem o direito de comprar o ativo ao preço do strike, digamos R$10, porém não há limite superior para o preço de nenhum ativo, de forma que o prejuízo desta operação é ilimitado. Especialmente para os vendedores de pozinho*.

* Opções lançadas por R$0,01 bem longe do preço na expectativa de que nunca serão exercidas exceto em caso de cisne negro.

Consegui realizar os lançamentos de PUT pela Easynvest, corretora que estava utilizando somente para renda fixa, conforme relatei aqui.

As corretoras permitem que os clientes lancem pozinho, por exemplo, porque eles possuem gerenciadores de risco e caso o preço da opção passe para, digamos R$0,03, ou seja triplique, a operação poderá ser revertida à revelia do cliente. Pois se o cliente não puder arcar com o prejuízo a corretora será responsabilizada. O gerenciamento de risco da corretora não serve para proteger o cliente, o que é óbvio.

Desta forma não lanço opção se não possuir os meios para honrar 100% do exercício. Não quero correr o risco de ser revertido numa operação que entrei. Se eu entrei, quem decide a hora de sair sou eu. O único jeito de garantir isso é dispondo de garantias suficientes.

Modelo Mental

Quando lancei Call Coberta me pareceu que estava fazendo algo muito seguro, tinha a sensação de ter feito um excelente manejo de riscos. Porém ao lançar Put a sensação é de que estava fazendo algo arriscado. Não sei se isso se dá pela forma como as Put são apresentadas, se pelo fato de estar flertando com um mercado baixista, mas quando se estuda o assunto percebe-se que não há muita diferença, no que se refere aos riscos, entre lançar Put ou Call Coberta.





O lançador de opções precisa demonstrar para a corretora que tem como honrar o sinistro, ou exercício, assim é necessário travar recursos como garantia do negócio. Quem lança call está exposto ao risco de subida do ativo e não há garantia melhor que o próprio ativo objeto da opção, já que possui uma correlação igual à 1 com o ativo objeto. Neste caso, o lançador de opções que deixou suas ações como garantia passa a ser impedido de operar esta ação, significando dizer que irá participar de todo movimento de baixa, enquanto possuir a opção.

O lançador de Put pode deixar Tesouro Selic como garantia, de forma que não participa, igualmente, da alta do ativo objeto da Put, mas está exposto ao movimento de baixa, pois será obrigado a comprar o ativo a partir de um determinado nível de queda.

Em outras palavras, lançar Put ou Call Coberta é uma questão de atitude mental, já que não há diferença nos riscos assumidos. Nas duas operações o único risco que estaremos expostos é o risco de queda do ativo.

Não vou negar aqui que ser exercido numa Call coberta é completamente diferente de ser exercido numa Put. Ao ser exercido numa Call fica-se com aquele gostinho de que poderia ter sido melhor, mas a renda extra serve como alento e além do mais a operação foi completamente encerrada e estamos somente com o financeiro, ou seja, estamos prontos para viver outros problemas.

Ao ser exercido numa Put fica-se com aquele gostinho de merda na boca, pois comprei "caro" e agora estou com ativos que terei que trabalhar por algum tempo para gerar renda. Similiar àquela sensação de quem comprou uma ação que caiu no dia seguinte (#quemnunca).

Mas quando se opta por qualquer uma das duas operações estamos expostos ao mesmo risco desde o primeiro instante, que é o risco de queda do ativo.

Se estamos expostos ao mesmo risco, porque vemos estas duas operações de forma tão diversa?

Dito isso temos que entender a atitude mental do lançador e do titular de opção.

Temos que lembrar que quem lança opções está assumindo o risco alheio, por isso a atitude mental proposta é de encarar o exercício da CALL como a realização de um lucro e o exercício de uma PUT como a aquisição de um ativo à um preço atraente.

E aqueles que compram opções, estão em busca de uma espécie de seguro (hedge). Assim temos que nos lembrar que quem compra uma Call está querendo garantir que participará de parte da subida de um ativo. E quem compra PUT está querendo limitar sua participação na queda de um ativo.

A solução de compromisso

Para se gerar renda extra com opções a primeira coisa que se deve querer é possuir um ativo a ponto de não se preocupar em participar da queda.

Depois deve-se entender o ponto a partir do qual estaremos participando da queda do ativo.

PUT: Preço do strike subtraído do prêmio

CALL COBERTA: Preço de aquisição do ativo subtraído do prêmio (sempre com strike acima deste valor!!)

Escolha do prazo

A escolha do prazo do vencimento das opções não tem muito mistério. Basta procurar por aquelas que vencerão num prazo de 20 a 45 dias. Neste prazo é quando elas têm melhores prêmio e liquidez.

Lembrando que estamos ofertando um seguro e que quanto maior o prazo de vencimento melhor deve ser a remuneração, pois estamos protegendo o titular por um período maior.



Por exemplo, ao adquirir um seguro de viagens ele é cotado em função do número de dias. No meu caso, costumo fazer uma estimativa da rentabilidade mensal do prêmio para verificar qual vencimento será mais vantajoso no momento do lançamento.

Em geral o vencimento mais próximo gera o melhor rendimento mensal para um mesmo strike.

Escolha do prêmio

Para a Call o strike (preço de exercício) deve ser sempre acima do preço de aquisição do ativo subtraído do prêmio que foi definido, de outra forma a operação corre risco de gerar prejuízo. O melhor momento para fazer o lançamento é justamente durante um rally (movimento de alta). Lembrando que quero gerar renda e não possuir o ativo. Com este aproach estou maximizando as chances de ser exercido e só ficarei com o ativo se ele cair.

Já para Put penso que o valor do strike subtraído do valor do prêmio deve ser de 5% abaixo do valor atual do ativo, de preferência abaixo de algum suporte ou média móvel importante (21 ou 50 períodos), e o prêmio deve ser algo como 1 a 2% ao mês do valor do strike. Não está fácil de achar este tipo de oportunidade, mas essa é a forma que escolhi para gerenciar os riscos. O melhor momento para fazer o lançamento é após um movimento de baixa maior que 3 dias.

No lançamento de PUT o dinheiro deve estar disponível para o caso de exercício, além do que sua corretora irá cobrar uma garantia para liberar a utilização de margem que pode ser através de dinheiro, ações ou tesouro direto. Como considero seriamente a possibilidade de ser exercido, penso que deve-se aproveitar para remunerar o dinheiro parado como garantia e deixa-lo aplicado no tesouro direto, preferencialmente o Selic, para não haver risco de prejuízo no ativo garantia ato do exercício.

CARTEIRA

Tenho feito alguns testes e este approach parece que irá remunerar bem o capital. Resolvi criar uma carteira para operações de Call Coberta e Put com objetivo de gerar renda a partir do lançamento sistemático de opções de compra dentro de ações que serão encarteiradas exclusivamente com este objetivo.

Dentre os ativos que possuem liquidez eu prefiro os bancos (BBAS3, ITUB4 e BBDC4), mas aceitaria uma pequena posição em VALE3 e PETR4 pois tem prêmios melhores.

Gostaria de incluir nesta carteira ações como LAME, VIVT, EGIE, BBSE e ABEV e gerar alguma sinergia com minha carteira Buy and Hold, pois conseguiria adquirir ações (com lançamento de PUT) com um preço médio melhor, mas a liquidez não é boa.

Outra coisa importante é operar com ativos de qualidade, para que em caso de cenário baixista o ativo não se transforme automaticamente em mico.

Essa carteira corresponderá à no máximo 3% do Portfólio e a estratégia será mantida por todo o ano de 2018. Penso em utilizar essa estratégia para aproveitar esse final de ciclo de redução da Selic e excesso de liquidez dos mercados mundiais e depois desse período a estratégia será reavaliada.




Como essa estratégia visa maximizar ganhos, devemos estar atento à possibilidade de efetuar uma rolagem na véspera do vencimento. Essa rolagem muitas vezes será vantajosa, mas não vejo nenhum problema em ser exercido e recomeçar a estratégia na sequência.

Tenho um belo prejuízo a compensar com imposto de renda, já comentado aqui, por isso os ganhos líquidos dessas operações levam em conta praticamente só custos de corretagem.

Apesar de entender claramente que não há diferença nos riscos assumidos em nenhuma das duas operação eu fiquei mais confortável com a variante de lançamento de Call Coberto.

Um dos motivos é que esta operação se encerra com liquidez e por isso posso fazer o lançamento da opção com o strike pouco acima do preço do ativo, garantindo uma boa remuneração sem depender de ser exercido.

O outro motivo é que na minha opinião a remuneração de uma PUT deveria ser um pouco superior à remuneração de uma CALL (para uma mesma variação percentual do ativo), pelo fato conhecido da bolsa subir de escada e descer de elevador. Ou seja, o evento mais abrupto deveria remunerar melhor, mas isso não acontece, pelo menos no pouco que observei desse mercado. As pessoas com mais experiência costumam dizer que o mercado muda com o tempo e pode ser que num futuro haverá diferença na renumeração dos dois derivativos.

E você, vai de CALL, de PUT ou Passa?

Grande abraço, bons investimentos e até o próximo post!!!

Disclaimer: Não sou analista certificado. Todos os ativos apresentados nesse blog são apenas ilustrativos, não representando qualquer indicação (nem de compra, nem de venda, nem de manutenção).
Este blog serve apenas para fomentar discussões e trocar experiências.
Conheça bem o mercado que você investe, pois os resultados de suas operações são de sua inteira responsabilidade.



Comentários

  1. Olá Janota, eu não consegui entender direito a sua estratégia.

    Eu já vendi puts na Easynvest para comprar um ativo a um determinado preço no futuro e ainda ser remunerado por isso. Por exemplo: eu lancei uma PUT de ITUB4 no preço de R$ 26,00 em Fevereiro/2016 e fui exercido pq a ação estava R$ 25,00 no dia do exercício.
    Mas pra mim estava tudo bem, eu sabia que a R$ 26,00 era um bom preço. Agora acertar o timing de venda coberta ações (Venda de Call) só é válido pra ações que se você for exercido, não afetará o seu psicológico

    Abraço

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    1. Olá Aportador,
      Não sugiro timing, não acredito que isso seja possível. A ideia da put seria fazer o encarteiramento das ações ou substituta dos trades de call coberta que venho fazendo. Já que o risco é equivalente, risco de queda, e segurar um ativo que caiu. Se sou exercido na put que não quero encarteirar iria começar o processo de lançamento de call. De forma geral os trades lançam call em mercado de baixa e put em mercado de alta. Mas vai depender do que cada um entende da tendência e dos prazos que trabalha.
      Abraço!

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    2. Ah, nos fechamentos mensais dos trades tenho tentado mostrar como opero essa estratégia, também fiz 2 posts no passado que estão citados logo no início deste aqui! Particularmente vejo o mercado em alta, por isso o lançamento de call coberta também chamado de put sintética.
      Abraço!

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  2. Olá,

    Estou acompanhando seu blog, encontrei ele na internet procurando sobre a estratégia de call e put, estou começando ela em março na minha carteira, estou fazendo uns testes e vou começar a procurar uma renda de 2-3% mês com meus investimentos de renda fixa.

    Meu e-mail é asaph.mendes@gmail.com , podemos ir trocando ideias do que fazer, dificil encontrar quem busca rendimento com opções.

    Att

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    1. Ola Asaphmendes,
      O assunto é meio tabu, e todo mundo que se digna a explicar tenta nos convencer a comprar opções, com o simples argumento de que não gera obrigação, mas pouco se fala que a maioria das opções estão fadadas à terminar valendo zero. Acredito que comendo pelas beiradas dá pra fazer um bom rendimento. Gosto também do clubedopairico, o conteúdo gratuito é um bom ponto de partida.
      Abraço!

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  3. Excelente post sobre opções. Super completo!

    Mexer com opções, para investidores bem experientes na bolsa. Que fazem uma boa gestão de risco.

    Outro ponto que por causa, melhor para carteira maiores.

    Call cobertas longe do strikes fazem sentido. Pois se não for exercido ganha uma renda extra. Se for exercido, muitas vezes vai vender com lucro.

    Já as Put cobertas, fazem sentido para uma carteira de buy and hold. Lança put cobertas de excelentes empresas, as melhores da bolsa a preços longe do strike. Se não for exercido ganha uma renda extra. Se for exercido compra com desconto.

    Mas para as put cobertas é preciso ser mesmo investidor Buy and Hold raiz, pois pode ser que a put coberta seja exercida a um preço e a cotação atual seja bem menor. Ficando com ela já com um bom preço prejuizo (teórico) na carteira.

    Abraço e bons investimentos.

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    1. Olá DIL!
      Obrigado pelos comentários!
      É sempre bom ver outros pontos de vista!
      Grande abraço!

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